domingo, 28 de novembro de 2010

A vista da sua janela.

O café amargo agora esfria, há uma pausa imensa de silêncio no quarto. Há no meu leito um pouco de meu próprio veneno e algumas garrafas com nada.
Os pés pisam de meias no chão gelado, a cabeça gira por uns momentos, o peito arde. O caminho entre a cama e a janela nunca fora tão grande.
Nem era uma noite tão bonita assim, mas abri a janela de uma forma dolorosa e fria como ele costumava fazer pra vida entrar.
A janela do meu quarto não tem vista pra lugar nenhum e qualquer janela que eu abra agora também não terá.
Na camêra fotográfica não tem foto nenhuma de nós dois, nem um porta retrato e nem nada, tudo que eu tenho dele é a calça de pijama e a faca de aniversário, nem o muro tenho mais. Não tenho nada.
Eu tentei escrever a noite inteira uma carta que fizesse ele chorar tanto quanto eu, mas a minha gramática ele também levou, levou as cores da parede, o cheiro de meus lençóis, os trincos da porta. Ele levou minhas melhores piadas e o brilho dos meus olhos, levou até o que não coube na mala.
Com as mãos em concha, ele levou as minhas lágrimas pra sei lá onde. Desperdiçou as palavras maldizendo o amor, despediu-se de mim como se eu fosse partir pro fim do mundo e dobrou a esquina na moto.
Engrassado como a vista da janela dele é bem melhor.
E aquele menino que eu ví nascer com o amor beirando a crista do mar, partiu como parte a brisa que chega à praia.
Bem dizia eu um dia:
_Só se sabe quando ama, quando você já não se importa mais se ele usa as meias pretas com o cadarço amarrado na canela. ( e eu amei).
Vou acender um cigarro de palha, colocar o pijama dele e abrir as janelas de casa.
Essa noite vou chorar até a dor passar...


Por hoje é só.
Câmbio, desligo!