sexta-feira, 16 de julho de 2010

Difusão.

O mar de inverno me consumiu. Frio e turbulento, como deveria ser.
E de longe parecia inofensivo e sonolento, sorrateiro, secreto.
Os pés descalços demorando pra se acostumar com a pureza, a pele regeita, o corpo todo se dilata, os olhos mal piscam.
Em meus rituais o cultuei e pedi pra me aceitar e como quem abre imensos braços maritmos ele me chamou em vozes místicas.
Fui deitando em seus braços ferozes como fosse eu enamorada. Disfarçado foi me escondendo no breu como esconde a lua, neblina fria. É inverno.
Poucas estrelas perdidas no céu, pouca luz, pouco barulho.
As ondas do mar são as minhas lágrimas de alívio, súplica e o retrato de um desabafo solitário e desesperado. O salgado de meu choro carregado, a turbulência de meu peito inquieto, a minha fé.
E se abaladas ou não, o mar é meu, eu o fiz com o que despejei sobre ele, eu o quis.
O céu nú fui eu quem pintou, com estas mesmas mãos jovens de unhas tingidas, de histórias e pesos, de luxúrias.
Sobre o mar coloquei peso de meus ombros, minha cruz, meu medo e ele assim, aceitou agradecido e calado.
Às minhas costas os olhos cortantes dele.
Os olhos ferinos de quem se reserva, mais silêncioso que a noite, desenhado na escuridão.
Quem ousa?
Olhar uma mulher em seus rituais libertinos, sem escrupulo nenhum, sem medo de se perder, de ser arrastado pela correnteza.
Coloca na face aquela expressão de incógnita, pose descontraida, fechando os olhos somente pra sentir a deriva.
E como Adão, atrás de mim se fez de areia.
Por vezes caminhava inquieto, outrora fazia suas preces.
E como faço?
Se por hora eu não soube qual das correntezas me puxavam?
Se talvez fosse o breu do mar ou a imensidão distante daqueles olhos cortantes.
As coisas se difundem numa velocidade impressionante.
O cheiro do mar é o cheiro dele, o barulho do mar vem dos pulmões dele, o frio vem de mim.
As ondas que se chocam com as pedras tem o tom da voz dele, o colorido do céu vem da cor da pele, as luzes distantes do sorriso e já não é mais mar, ou talvez já nem seja mais homem.
Rouba da paisagem as cores, os votos, os desejos. Rouba o mar do mar e eu de mim.
Seria estranho, seria loucura, seria imparcial, se eu não desejasse de uma vez, Mergulhar...

Só por hoje,
Me permitam ser Desconvexa.

Câmbio, Desligo!